Na concepção dos gráficos
existe o risco de que o conteúdo de informação seja reduzido. E como temos
visto através de muitos exemplos, o tratamento dos períodos nos eixos de tempo
dentro das tabelas e gráficos também é bastante difuso. Um considerável aumento
da legibilidade e uma maior densidade de informação poderia ter como base uma
padronização das formas de representação. A solução sugerida para tal
padronização é o conceito de notação conforme Hichert. Neste último capitulo da nossa série trataremos um ponto muito
importante neste conceito - o problema das escalas truncadas. Outra vez vamos
mostrar exemplos reais e explicar o significado desta problemática.
Lembre-se: Estamos
convictos da satisfatória apresentação dos conteúdos de informação nos
relatórios anuais analisados, também como a boa representação da imagem da
empresa. Mesmo achando em alguns casos uma necessidade de ação o nosso foco é
sugerir melhorias e otimizações a base das regras do conceitos de notação, que
pela primeira vez nesta área de comunicação corporativa introduz sugestões de
uma padronização para a visualização de informação corporativa.
Representações manipuladas por escalas truncadas
Cortar escalas significa
alterar a aparência da informação e sugerir ao leitor uma impressão diferente.
Existe um grande potencial de enganação do mesmo. Bons exemplos dos assim
chamados “gráficos enganosos” podemos ver no site de Hichert (www.hichert.com/en/success/check/144), como o
exemplo no plano de reestruturação financeira da General Motors (GM).
Fig.
1: Exemplo de gráficos com escalas truncadas distorcendo a magnitude dos
valores.
No seguinte gráfico,
tirado do relatório anual do Banco do Brasil, ainda podemos falar de um caso
“menos grave”, mas mesmo assim distorcido. Devido a um escalonamento aleatório
surge a impressão de que o segmento Consignado INSS tem a maior importância enquanto
só representa menos de um quarto do segmento CDC Salário. Pior ainda, aplicando
uma escala única o segmento BB Crediário nem deveria aparecer pela sua quase
insignificância de 570 mi em 2012 em relação aos 17 bilhões do CDC Salário, que
é 30 vezes o valor.
Fig.
2: Exemplo de uma ocorrência muito comum nos relatórios: Gráfico sem
escalonamento adequado. (Fonte: BB, Relatório Anual 2012, pág.56)
No caso do “gráfico
das catedrais” da Embraer, também fica difícil de se orientar. Os valores
apresentados se referem a altura da “torre” ou a sua área? A “distancia” entre
2009 e 2010 são de 139,6 mi R$ e entre 2010 e 2011 são de 122,7 mi R$. Mas 2010
é no mínimo 3 vezes mais distante do que 2010 de 2011.....
Fig.
3: Os valores se referem á área ou altura? (Fonte: Embraer, Relatório Anual
2011, pág. 107)
Outro caso que pode
ser juntado no tema escalonamento é a omissão de períodos no eixo do tempo.
Enquanto a relação dos valores na altura aparentemente está correta, podemos
observar a falta dos anos 2008 e 2009. Isto também gera uma impressão errada na
evolução dos dados, pois não é possível de dizer se 2007 era uma exessão ou
houve uma diminuição gradativa.
Fig.
4: Quase impercebível, mas na linha do tempo faltam dois anos. (Fonte: Celulose
Irani, Relatório de Sustentabilidade 2012, pág.57)
Os próximos quatro exemplos
mostram as falhas mais comuns e mais encontradas na maioria dos relatórios:
- falta de escalonamento,
- mistura de visões estruturais com
visões de tempos,
- falta de uniformização e
distinção na apresentação dos itens de informação.
Neste exemplo do
Bradesco podemos ver uma troca da visão estrutural com a dos tempos, a falta de
escalonamento, pois Lucro Líquido aparece igual aos Juros sobre Capital e a escola
do torus para a apresentação de valores estruturais através de um gráfico de
pizza.
Fig.
5: Falta de escalonamento e tipo de gráfico apresentam os dois principais
pontos de crítica.
(Fonte: Bradesco, Relatório Anual 2012, pág. 14)
No exemplo do Itaú
Unibanco temos as mesmas falhas como no exemplo anterior. Temos a idêntica
apresentação de assuntos totalmente diferentes e expressados em categorias e
escalas diferentes como valor monetário (R$, R$ bilhões), porcentuais (%),
relações (Lucro por ação). Desta forma é quase impossível para o leitor de se
orientar e entender o significado dos números imediatamente.
Fig.
6: Assuntos iguais devem ser apresentados igualmente e assuntos diferentes
devem ser apresentados diferentemente.
(Fonte: Itaú Unibanco, Relatório Anual 2012,
pág. 9)
Observando o
relatório da Cyrela encontramos novamente as mesmas falhas, só em visualizações
diferentes. Estoques de terrenos é do tipo gráfico estrutural e deve ser
apresentado com barras. Os valores absolutos também como as margens percentuais
de EBIT, Lucro liquido e Lucro bruto foram colocados sem obedecer um
escalonamento. As divisões nas colunas são meramente ilustrativos e como se
trata de uma incorporadora deve se tratar de blocos de um pilar ou algo
parecido.
Fig.
7: Elementos sem conteúdo informativo devem ser evitados: Neste caso os
“blocos” dos pilares.
(Fonte: Cyrela, Relatório Anual 2012, pág.25)
Na apresentação da
Síntese de Desempenho da Tecnisa temos os mesmos itens:
Assuntos diferentes
são apresentados de forma igual. Itens com valores percentuais são tratados da
mesma maneira como unidades ou valores monetários. O uso de cores
aparentemente segue nenhum significado específico.
Fig.
8: Outro exemplo que não facilita a leitura por falta de diferenciação.
(Fonte:
Tecnisa, Relatório de Sustentabilidade 2012, pág. 8)
Por outro lado
podemos mostrar através do exemplo de um ROI-Chart que é possível visualizar
informações facilmente legíveis. O que pertence ao mesmo item temático é
apresentado igual e o que é diferente é apresentado diferentemente. Valores
monetários estão apresentados em colunas, fatores em agulhas e valores
percentuais em linha. Entre os três gráficos Profit, Net sales e Capital há uma
escala única. Há uma clara diferenciação entre realizado e orçado e o curso de
tempo começa no lado esquerdo e abrange 7 anos, suficiente para observar alguma
tendência e fazer comparações melhores. Basta seguir um conceito de notação
para melhorar a legibilidade.
Fig.
9: Tipo de gráfico ROI conforme as normas de desenho SUCCESS.
As vezes as
representações não cumprem os requisitos de uma boa estrutura (semelhante,
sobrepondo-se e exaustiva). Mas isto nem sempre não pode ser atribuído aos
desenhadores dos relatórios anuais. Muitas vezes, os segmentos e as
organizações de aplicação já são estruturados de forma incoerente e leva a
subdivisões infelizes como o exemplo no relatório anual da BrasilFoods mostra.
O Total é composto pelos itens mercado interno, mercado externo, lácteos e food
services, enfim uma estrutura que apresenta sobreposições.
Fig.
10: Nem sempre a estrutura das dimensões fica claro.
(Fonte: BrasilFoods,
Relatório Anual 2012, pág. 33)
Fig.
11: Food service e Lácteos: produto ou mercado? A questão da estrutura certa.
(Fonte: BrasilFoods, Relatório Anual 2012,
pág. 30)
Resumo
É impressionante
como ainda tem pouco valor o item “leitura fácil” e a aplicação de conceitos de
notações na elaboração dos relatórios anuais.
Em todos os casos
das duas categorias dos primeiro cinco colocados no Prêmio Abrasca da 14ª
edição podemos observar na elaboração de gráficos e tabelas muitos itens que
inibem uma rápida percepção da informação contida. Para a avaliação da
utilidade de um gráfico podemos aplicar a simples regra do Professor Hichert:
“Se eu não conseguir captar dentro de 5 a 10 segundos o conteúdo do gráfico
está algo errado com ele.” Isto quer dizer que o gráfico não atende as
exigências na questão de transmitir uma mensagem, unificar elementos, condensar
as informações, trazer informações corretas, simplificar a sua apresentação e
de forma bem estruturada. E de fato identificamos muitos exemplos onde ainda
existe muito espaço para melhorias.
Como foi mostrado,
obviamente ninguém segue algo como uma metodologia de visualização da
informação. O relatório anual ainda é mais considerado uma obra de arte com
fins de propaganda do que uma fonte de acesso a informação corporativa para
fins de conseguir investidores. O que mais podemos observar nas inconsistências
é o mal aproveitamento do espaço disponível com informação valiosa, a pouca
diferenciação na apresentação dos itens temáticos, o uso de cores como itens de
enfeites e não como portadora de informação, formatações inadequadas de textos,
tabelas e gráficos e last not least a pouca refletida seleção de tipos de
gráficos para determinadas questões.
Mesmo sendo assim,
olhando para o passado e comparando os relatórios daquelas épocas com aqueles
de hoje, podemos observar que no decorrer do tempo a importância da
visualização das informações nos relatórios aumentou muito e que as empresas
estão trabalhando muito para melhorar a qualidade dos relatórios internos e
externos.
Talvez chegou
também a hora para uma outra área bastante promissor e que aparentemente ainda
não conseguiu tanta atenção como os relatórios anuais. Falamos daquela das
apresentações corporativas, teleconferências, monthly reports e todas as outras
apresentações que ocorrem com maior frequência para públicos ainda mais
seletivos e utilizam em abundância gráficos e tabelas nos seus slideshows.
Em uma das próximas
edições vamos pôr um olhar especial nas obras de apresentações dos nossos
campeões aplicando os mesmos critérios do conceito de notação do SUCCESS.
Endereços
de downloads dos relatórios citados:
Prêmio Abrasca (www.abrasca.org.br)
Embraer (http://ri.embraer.com.br/)
Itaú Unibanco Holding (http://ww13.itau.com.br)
CEMIG (http://cemig.infoinvest.com.br)
EDP Energias do Brasil (http://edp.infoinvest.com.br/)
BrasilFoods (https://www.brf-br.com/ri/)
Comgas (http://ri.comgas.com.br)
BM&F-Bovespa (http://ri.bmfbovespa.com.br/)
Eternit (http://ri.eternit.com.br/)
AES Tiete (http://ri.aestiete.com.br/)
Tecnisa
(http://www.tecnisa.com.br/investidores)
Santos Brasil Participações (http://www.santosbrasil.com.br/pt-br/relacoes-com-investidores)
Bradesco (http://www.bradescori.com.br/abertura.html)
Banco do Brasil (http://www.bb.com.br/portalbb/home2,136,136,0,0,1,8.bb)
Outros
links úteis:
Exemplos
empresas usuárias SUCCESS:
Claro Fair Trade (http://corporate.claro.ch/Investor-Relations.360+M5d637b1e38d.0.html)
Outros seguidores do SUCCESS (http://www.hichert.com/en/consulting/509)
Sobre visualização
de informação:
Edward Tufte (http://www.edwardtufte.com/tufte/index)
Stephen Few The perceptual edge” (www.perceptualedge.com)
Nicole Nussbaumer “Storytelling with data” (www.storytellingwithdata.com)
Fernanda Viegas (www.flowingmedia.com).
Lars Schubert (http://blog.graphomate.com/)
Heinz Steiner (http://www.accountingundcontrolling.ch/author/heinzsteiner/)
Ferramentas
para elaboração de gráficos SUCCESS:
Microsoft
Excel:
HI-Chart-GmbH (www.hi-chart.com/en/)
SAP
BusinessObjects Design Studio:
Graphomate GmbH (http://www.graphomate.com/en/)
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